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sexta-feira, 19 de abril de 2013

Transporte por ônibus em país desenvolvido é coisa séria

Embora no Brasil a mobilidade por ônibus seja considerada algo para os pobres, na Europa é um meio de transporte levado muito a sério.

Ônibus articulado urbano francês: Irisbus Crealis Neo.
Transporte por ônibus em país desenvolvido é coisa séria mesmo; onde existe metrô.
OlimPIADAS do Brasil
OlimPIADAS do Brasil

Embora o transporte por ônibus no Brasil seja encarado por gestores públicos, políticos e mesmo por muitas pessoas como algo para pobres que não podem ter um carro ou uma moto, em países desenvolvidos é visto como parte importante das soluções para mobilidade urbana das grandes cidades.

Ônibus comum europeu, com piso baixo - Crédito: modellbus.info

Ônibus e sistemas de BRT são soluções altamente flexíveis para a mobilidade de grandes cidades. Exemplos ótimos para isso são Londres, Paris e Nova Iorque. Mesmo tendo sistemas de metrô grandes, eficientes e antigos, eles buscam dar prioridade ao transporte por ônibus, seja cobrando pedágio de carros particulares em áreas congestionadas, seja através de faixas ou corredores exclusivos para ônibus. Não faz o menor sentido um ônibus levando várias pessoas ficar preso num congestionamento, comprometendo horários e a mobilidade de quem abdicou de seu carro particular ou não o possui.

Na Europa e em lugares com transporte desenvolvido, como Japão, Cingapura e Austrália, os ônibus têm piso baixo para acesso rápido das pessoas, mesmo que essas sejam cadeirantes, idosos, grávidas ou pessoas com carrinho de bebê. O motor fica na parte de trás do ônibus, o que proporciona menos ruído e calor no interior do ônibus. A suspensão de ônibus de verdade têm suspensão a ar e não suspensão de molas, como em ônibus brasileiros e caminhões. Os ônibus, mesmo em regiões não tão quentes, têm ar condicionado, pois mesmo cheio e com as janelas fechadas as pessoas não se sentem sufocadas nem têm de conviver num ambiente abafado.

Ônibus adaptados a pessoas de mobilidade reduzida e carrinho de bebê

Infelizmente, no caso de Brasília, mesmo após a licitação da frota de ônibus que está atualmente em curso, os ônibus ainda são vistos pelos gestores e pela maior parte da população como algo em segundo plano. Embora cheguem ônibus novos, serão os mesmos"caminhônibus" que infestam as cidades brasileiras. A prioridade continuará sendo dada aos carros, o que só piora problemas de poluição e falta de mobilidade urbana na capital do país. Embora o discurso do governador Agnelo e do PT seja de mobilidade sustentável, na prática a prioridade é dada ao automóvel.

Em países desenvolvidos é sabido há muito tempo que para uma boa mobilidade é necessária uma união de modais: metrô, bondes, trólebus, ônibus, ciclovias e calçadas. Nenhuma cidade vence o congestionamento de carros e a poluição apostando num único modal, como querem nos fazer crer com o metrô. Mesmo em Londres, com o metrô mais antigo do mundo e mais de 400km de trilhos, mais da metade dos deslocamentos na cidade são feitos de ônibus. Esse é um dado com o qual temos de aprender.

Faixas exclusivas para motos em Brasília

Faixas exclusivas para motos em São Paulo deram errado, assim como rodízio de carros por placa, mas é provável que se adote a idéia em Brasília.

Faixa exclusiva de motos em Jacarta, na Indonésia. Pedestre se desloca mais rápido.
Faixa exclusiva de motos em Jacarta, na Indonésia. Pedestre se desloca mais rápido.

As faixas exclusivas para motos não deram certo na cidade de São Paulo. De acordo com pesquisa, elas não reduziram o número de acidentes. Pelo contrário, o número de acidentes e vítimas cresceu. Ainda assim, logo aparecerá algum político brasiliense querendo trazer essa idéia pra cá. Afinal, brasileiros em geral (e brasilienses em particular) preferem copiar o que deu, dá ou dará errado, desde que seja novidade que dê a impressão de ser solução. Já cogitaram até trazer rodízio de placas para Brasília. Cidades que o usam, como a cidade de São Paulo e cidade do México são exemplo de trânsito caótico e poluição.

Era já esperado que o modelo não desse certo. Cidades focadas em motos como solução para a mobilidade são um fracasso tanto em termos de poluição como em termos de acidentes. O Vietnã é um país onde a mobilidade é altamente focada na mobilidade por motos. Os pedestres são desrespeitados. Os motociclistas andam com máscaras para se proteger da poluição que eles mesmos provocam, visto que a poluição das motos é grande mesmo comparada a carros particulares e ônibus velhos e mal regulados. O trânsito é caótico e o número de mortes é alto.

Se motos fornecessem um bom modelo de mobilidade urbana, é óbvio que teríamos várias cidades desenvolvidas adotando-o. O que não é o caso nem de longe. Brasileiros sempre tentam dar um jeitinho para questões complexas. Mas basta olhar para países europeus para perceber que soluções para a mobilidade não funcionam através de jeitinhos. É um esforço continuado de criar facilidades para a mobilidade eficiente e sustentável. E nisso as cidades que foram projetadas para pessoas e não para carros levam grande vantagem.

Brasília foi projetada para os carros? Sim. Mas também foi projetada para um máximo de 500 mil habitantes e para ser a capital da esperança, a capital que representasse o novo Brasil. Falhou em tudo isso e hoje é símbolo de corrupção.

Referência: São Paulo desiste das motofaixas. Publicado em 08/11/2011. Acessado em 19/04/2013.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Mais um pedestre é atropelado e morre no eixão

É hora de ver que uma rodovia em área urbana com pedestres relegados a distantes e perigosas passarelas subterrâneas simplesmente não faz sentido.

Imagem de homem é atropelado no eixão da morte
Mais um pedestre é atropelado no eixão da morte. A ida e volta até a passarela subterrânea para ele seria de 1,6 quilômetros.

O atropelamento foi hoje de manhã. Mesmo a imprensa local tratou de colocar a culpa do atropelamento no pedestre, já que ele foi atropelado a "apenas" 800 metros de uma passarela subterrânea (ida e volta dariam mais de um quilômetro e meio). Quem já andou por Brasília sabe que essas passarelas são sujas, perigosas, fétidas e muito ruins para pessoas que estão cansadas, idosas, deficientes, mulheres grávidas ou de salto alto. A vítima de hoje voltava para casa após ter trabalhado durante a madrugada.

País de pessoas violentas é igual a país de trânsito violento

A vítima, Valdir Alves Dias, de 49 anos, era apenas um pobre trabalhador que voltava para casa após uma noite de trabalho. Infelizmente logo será esquecido. Para o brasiliense comum, ficará apenas a lembrança de alguém que foi atravessar o eixão e acabou atrapalhando o trânsito da manhã de uma segunda-feira. Nada mais normal para um país com um trânsito ridículo que mata 71 pessoas a cada 100.000 veículos por ano. Em países desenvolvidos esse número vai de 7 a 15.

Veja também: Passarela subterrânea ou beco enterrado?.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Comparação Londres e Brasília: quem tem melhor transporte público?

Tanto Londres como Brasília têm metrô e muitos ônibus: mas qual cidade tem melhor transporte público e mobilidade urbana?

Fotos comparando transporte público em Londres e Brasília
Imagem 1: ônibus de Londres, com acesso rápido por todas as portas, portas bem largas de correr como em metrôs e piso baixo. Imagem 2: passageiro é obrigado a dar pulo de dentro de ônibus em Brasília para não cair na água suja. Imagem 3: bombeiros e passageiros no Metrô-DF durante uma de suas panes mais longas.

Tanto Londres como Brasília são capitais de seus países, Inglaterra e Brasil, respectivamente. Deixamos a seguinte pergunta: qual cidade tem transporte público melhor? Como se compara a mobilidade urbana dessas duas cidades? A tabela abaixo ilustra alguns aspectos que influenciam a mobilidade das pessoas dentro das regiões metropolitanas das duas cidades.

Comparação das regiões metropolitanas
BrasíliaLondres
Ano de fundação1960Fundada em 43 DC, refundada em 886 DC
População2,5 milhões (3,8 contando na RIDE)8,3 milhões
Classificação de cidades globaisNão é Cidade GlobalCidade Global Alpha++
MetrôSimSim
Metrô (km de trilhos)42 km400–420 km
Metrô (número de linhas)1,5 (duas linhas em Y, com sobreposição de itinerário)11
Metrô: Passageiros/dia130 mil3,2 milhões
Ônibus: Passageiros/dia1,2 milhões6 milhões
Faixas exclusivas para ônibusSim (mal implementadas)Sim (em asfalto vermelho ou segregadas)
Fiscalização eletrônica das faixas exclusivasSimSim
Ônibus de grande capacidadePouquíssimos articulados (sucateados)Sim (articulados1 e de dois andares)
Ônibus de baixa emissão de poluentes (entre Euro-5 e 6)NãoSim
Ônibus híbridos e/ou elétricosApenas 1 (em testes[ref])Sim
Ônibus de qualidade (piso baixo, motor traseiro, suspensão a ar)Pouquíssimos (alguns da TCB)Sim
Livre de rodízio de veículos (por número de placa)SimSim
Pedágios urbanosNãoSim (nas zonas centrais)
Estacionamentos públicos pagosNãoSim (nas zonas centrais)
Ciclovias, ciclofaixas, bicicletários etcApenas ciclovias (mal implementadas)Sim (mal implementadas, mas melhores que as do DF)
Ruas pedonais (apenas para pedestres e às vezes ciclistas)NãoSim
Qualidade e abrangência das calçadasMediana no Plano Piloto e ruim nas satélitesDe boa a excelente
Escoamento de águas das chuvasDe mediano a ruimDe bom a excelente

Saber que cidade está melhor agora é muito fácil. Mas a pergunta que fica é: qual cidade estará melhor daqui dez, vinte ou trinta anos?

Vale lembrar que, apesar de a Inglaterra ser a terra de uma das maiores empresas de petróleo do mundo (a British Petroleum), de várias fabricantes de automóveis (Rolls-Royce, Bentley, McLaren...) e ser a sede da Fórmula 1, a importância e o uso do automóvel lá está sendo reduzida sistematicamente. É para pensarmos até onde essa veneração brasileira ao automóvel deve ser vista como saudável.

Referências

1 A maior parte dos articulados de Londres foi substituída por ônibus de dois andares até o ano de 2011 como parte de promessa de campanha do prefeito Boris Johnson. A questão envolveu grande polêmica, pois envolveria grandes custos para a empresa pública de transportes da cidade.