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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Brasileiro é escravo do clima: Tornado é Ponta do Iceberg

Primeiro tornado em Brasília atraiu atenção, mas essa é só a ponta do iceberg nas mudanças climáticas. E o Brasil sempre mostra que, quando enfrenta o clima, só leva goleada.

Tornado em Brasília

Vocês se lembram da cratera na obra da linha 4 do metrô de Sâo Paulo? Ela engoliu caminhões, casas e pessoas. José Serra, então governador de São Paulo, foi rápido em afirmar que a culpa foi excesso de chuva. Hoje, em meio ao mais severo racionamento de água da história do Estado de SP, o governador Geraldo Alckmin diz que a culpa é da falta de chuva. Alguns meses atrás, aqui mesmo no DF, uma tenda do GDF para tratamento de catarata caiu deixando 10 feridos e um morto. De quem foi culpa? Ah… a culpa foi do vento. Ontem, também aqui no DF, cabos da rede de transmissão elétrica caíram sobre um ônibus com vários passageiros. Culpado? O famigerado vento, é claro. Em nenhum desses casos há punições. O culpado é sempre o que não pode ser punido nem pode se defender: o clima.

Enchente? Culpe as pessoas que jogam lixo nas ruas ou culpe o excesso de chuva; mas nunca culpe o sub-dimensionamento e a falta de manutenção nas redes de captação de águas pluviais. Também não culpe o excesso de asfalto em nossas cidades. Não diga que vias largas causam impermeabilização do solo (além de trazerem um desagradável aquecimento extra ao ambiente próximo). Nós, brasileiros, não somos apenas escravos de intempéries. Nós as agravamos. No Brasil, cada vez mais, é o clima quem dá as cartas.

Imagine se alguém na Finlândia, Islândia, Sibéria ou Alasca usasse a neve como desculpa para uma obra desmoronar? Seria chamado (no mínimo) de estúpido, certo? Pois é exatamente o que temos aqui. A diferença é que aqui o culpado é a falta de chuva, o excesso de chuva, as estrelas… Então a culpa é dos nossos governantes, certo? Bem… não é tão simples assim.

Senhores ou escravos do clima?

Em países bem quentes, como alguns do Oriente Médio, edificações, mesmo bem antigas, são construídas com excelentes sistemas de ventilação passiva que deixam os ambientes com clima agradável apesar das altas temperaturas do lado de fora. Um bom sistema de ventilação passiva diminui muito os custos com sistemas de ar condicionado. Em lugares mais frios, as casas contam com ótimos sistemas de calefação. Mas… e a maioria das casas brasileiras? Essas não têm nem o mais simples sistema de ventilação forçada. No máximo, acha-se um canto para colocar um ar condicionado. Escolas? Algumas são só na telha. E quem não se lembra das escolas de lata, verdadeiras saunas estudantis?

Estamos sempre vivendo o que o tempo nos dá. Não é a toa que fazem tanto sucesso nas redes sociais postagens que fazem humor apenas com o clima atual, seja ele muito quente ou muito frio. Nossas casas, e muitos ambientes de trabalho, não têm climatização adequada, diminuindo nossa saúde, principalmente, nossa qualidade de vida. E não podemos culpar apenas os governantes por isso.

Saúde e qualidade de vida

Nossa omissão em relação ao tema clima é mais um dos fatores que contribui para diminuir nossa qualidade de vida. Estudar e trabalhar em lugares sem climatização adequada é mais penoso. Mas isso nem é o mais grave. Como estamos piorando nosso ambiente, estamos contribuindo para diminuir a saúde de quem mais depende dela: crianças pequenas e idosos. Bebês, por terem o sistema digestivo em formação, sofrem muito com cólicas em ambientes frios, o que acontece muito em junho no Brasil. Já no lado dos mais velhos, o calor potencializa casos de ataque cardíaco. Um ambiente climatizado faz diferença, mas isso é uma coisa que sempre negligenciamos. Até por isso, durante a Copa do Mundo, vários estrangeiros notaram o descaso do brasileiro com a climatização de ambientes. Eles estão acostumados a um ambiente controlado severamente pelo termostato. E nós? Nós vivemos o calor do momento, uns reclamando, outros tentanto levar na esportiva.

2015: racionamento de água e energia

Ainda assim, o maior problema ainda está por vir: para 2015 já existe grande probabilidade de racionamento de água e energia elétrica em várias regiões do Brasil. Como a culpa é de vários governos e de vários partidos, essa carta não está sendo muito usada nas eleições: o problema é de todos, como sempre. Mas não pense que o problema será dividido igualmente: geralmente as localidades que estão ficando mais tempo sem água em São Paulo são as mais pobres. Mas o problema nunca é prontamente assumido e admitido pelos governos, pelo contrário: sempre dizem que é só um problema pontual, de ajuste de pressão d'água ou algo do tipo. É o jeitinho político brasileiro em ano de eleição.

Concluindo, vê-se que o brasileiro, talvez até por não ter de enfrentar um risco elevado de terremotos, furacões, tornados, vulcões e outros desastres naturais, nunca está preparado para o que vem. Falta chuva? A safra de arroz vai pro saco (de lixo). Sobra chuva? A safra soja vai pro brejo. Está frio? Sofre. Está calor? Reclama na sua rede social favorita.

Como se tudo isso não bastasse, e apesar do elevado risco de falta d'água em 2015, a temporada de enchentes está pra começar. Então, além de se precaver contra assaltos, acidentes de trânsito, sequestro-relâmpago etc, tome cuidado com o clima. Ele (também) pode te pegar!

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