Pensando, com um toque de bom humor, desenvolvimento, mobilidade e sustentabilidade do DF/Entorno.
Nossa página principal: facebook.com/andabrasilia
Receba atualizações pelo twitter também: twitter.com/andabrasilia

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Brasília não é ninguém

Matéria do CB defende Brasília como se ela fosse uma cidade melhor que as outras. Na verdade, ela é exatamente o oposto disso.

Passagem subterrânea de pedestres: o carro vai pela superfície
O pedestre, seja idoso ou jovem, desce e sobe escada. O carro vai tranquilo pela superfície...

Brasília é uma cidade elitista, construída sob uma visão obsoleta que divide pessoas, que põe políticos em palácios e cidadãos em carros. É uma cidade que coloca pedestres, ciclistas, usuários de transporte público e cadeirantes em posição de clara inferioridade apenas para beneficiar o carro (e, portanto, aqueles que têm dinheiro para comprá-lo e mantê-lo). É uma cidade que segrega em vez de unir.

Brasília foi construída como "capital de todos os brasileiros", mas nunca chegou nem perto desse "objetivo". E o tombamento é sempre um ótimo argumento para a elite manter privilégios da proximidade do poder. Quem não gosta de morar perto do castelo do rei? A proximidade da realeza traz facilidades.

Se Brasília não tivesse tantas verbas chegando facilmente por ser capital, talvez seria hoje uma nova Detroit: uma cidade quase fantasma, que pouco produz e, assim, definha. (Se você não sabe como está Detroit, que já foi uma das cidades mais prósperas dos EUA, veja abaixo o artigo "Detroit: cidade 'fantasma' em ruínas"). Mas talvez esse seja o destino desejado por muitos para Brasília: "para que nos preocupar em ter uma cidade inclusiva e produtiva se podemos apenas mamar recursos do Estado para sempre?", devem pensar baixinho.

A verdade é que Brasília não é ninguém. Se fosse uma pessoa, seria aquela pessoa que vive bem apenas por estar próxima do poder. Nada produz. Só é alguém por ser filha do presidente. O presidente que sonhava num Brasil de (e para) automóveis, um Brasil que iria aos poucos esquecer e abandonar suas ferrovias e hidrovias, ainda hoje muito mais eficientes do ponto de vista logístico. Mas isso é outra história.

O Correio Braziliense, em matéria intitulada Carta aberta aos defensores do tombamento, nos faz pensar que Brasília é uma "uma joia da arquitetura" e muito mais. Mas será que não caberia analisar também que o planejamento urbano excludente gera favelas em cidades-satélites e no entorno? O jornal mostra-se contra "prédios altos na W3", mas será que não deve haver uma maneira de aproximar mais as pessoas do centro de Brasília, mesmo que essas pessoas sejam pobres? O editorial diz ainda:

"Queremos transporte de qualidade, mobilidade urbana, ciclovias, acessibilidade, infraestrutura nas cidades ao redor de Brasília, segurança no Entorno, educação decente e o deslumbre do céu e do cerrado."

Mas cabe mais uma pergunta: será que com tudo tão centralizado no Plano Piloto (e embora o GDF até ensaie uma mudança, isso não vai mudar), não seria o caso de uma ocupação mais densa das áreas centrais de Brasília? Disso ninguém fala. O PPCUB é, no geral, ruim. Não é à toa que gera tanta polêmica. Por outro lado, tudo o que as elites não querem são trabalhadores pobres morando na capital do país. Para nossas elites, já basta que as classes C e D estejam ocupando áreas que antes eram apenas delas, como os aeroportos. Desse embate, quem provavelmente não sairá ganhando é a maioria dos trabalhadores e estudantes do Distrito Federal e Entorno.

PS: Muita gente, na hora de enaltecer Brasília, fala que é excelente morar numa "cidade sem favela". Não seria apenas uma maneira sutil de dizer que na cidade não mora gente diferenciada?

Se tiver um tempinho, leia:

A solução para a crise do transporte? Cidades compactas (Exame)

Detroit: cidade 'fantasma' em ruínas (DN)

Comente esta notícia também no Facebook ou no Twitter.

comments powered by Disqus

Aviso: Você é legalmente responsável pelos seus comentários. Comente com educação! As opiniões nos comentários não refletem a opinião deste blog.

Para comentar, use sua conta Twitter, Facebook ou Google+ para logar, ou use seu nome e e-mail (seu Gravatar será usado, se você tiver um).